Incêndios em planícies bolivianas afetarão manto branco das geleiras

Incêndios e mudança climática afetam manto de gelo
 em montanha na Bolívia. Martin Alipaz/EFE - 25.12.2019

Fuligem é levada pelo vento até as geleiras e acelera o derretimento nas montanhas, como Huayna Potosí, uma das mais emblemáticas da Bolívia

O manto branco das geleiras é cada vez menor devido à mudança climática do planeta e, na Bolívia, ele será afetado pela fuligem escura gerada pelos incêndios devastadores na Chiquitania, tradicional planície do sudeste do país, que acelerará o degelo.

Agência Efe visitou a impressionante montanha nevada Huayna Potosí, uma das mais emblemáticas da Bolívia, a 6.088 metros de altitude, para ver o impacto da crise climática na geleira.

"Há dez anos, era a geleira com mais neve, mas agora está sempre mudando", disse à Efe o guia de montanha Eulogio Llusco, que escala há 25 anos e já subiu a Huayna Potosí mais de 700 vezes. Para ele, o local mudou muito e há cada vez menos neve.

Os grandes incêndios

O problema global do aquecimento do planeta é agravado na Bolívia pelo desastre dos grandes incêndios deste ano.

O vento transporta partículas de carbono escuro - popularmente conhecido como fuligem - do fogo que tomou o leste do país em agosto e destruiu milhões de hectares de floresta e pastagens, como comentou o chefe do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras (WGMS) na Bolívia, Álvaro Soruco, em entrevista à Efe.

Essas partículas têm a capacidade de absorver a luz solar, o que leva ao derretimento acelerado das geleiras.

"Quando há mais partículas de carbono escuro depositadas nas geleiras, o derretimento aumenta porque a geleira absorve mais energia", explicou o pesquisador.

Quantidade de gelo na montanha vem reduzindo
há anos.Martin Alipaz/EFE - 25.12.2019

A fuligem viaja através do vento ou da chuva e é depositada em flocos de neve. Essas partículas podem ter um efeito futuro na frequência e intensidade das chuvas e na aceleração do derretimento.

 

O degelo antes do fogo

Soruco fez um monitoramento das geleiras tropicais no país, antes do incêndio, para verificar a perda de gelo. Ele afirmou que, em geral, desde 1975, pelo menos 50% da cobertura do gelo nas montanhas nevadas do país foi perdida.

Segundo a pesquisa, pelo menos 80% das geleiras mais afetadas estão abaixo dos 5,4 mil metros de altitude e perdem cerca de 1,20 metros de água a cada ano. Aqueles acima dessa altitude perdem 60 centímetros de água por ano.

"Em praticamente todo o mundo, as geleiras estão perdendo massa, geralmente as que perdem mais água ao nível do lençol freático são as geleiras do sul dos Andes", destacou.

A Cordilheira dos Andes é uma das mais longas do mundo, passando pela Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Segundo o pesquisador, 99% das geleiras tropicais estão concentradas nessa faixa, dos quais 70% estão no Peru, 20% na Bolívia, 4% no Equador e 4% na Colômbia e na Venezuela.

A água, o perigo

Caso as geleiras tropicais, consideradas um termômetro da crise climática, continuem neste derretimento acelerado, podem afetar o abastecimento futuro de água, de acordo com Soruco.

La Paz e a vizinha El Alto, a partir da qual Huayna Potosí pode ser vista, passaram por uma das piores crises de abastecimento de água em 2016 devido à queda no nível das represas que alimentam ambas as cidades devido à falta de chuva.

Fundação tenta sensibilizar população sobre degelo
de montanha. Martin Alipaz/EFE - 25.12.2019

"A água é um recurso subvalorizado, e as pessoas não estão conscientes da sua importância, porque existe um ciclo, mas se esse ciclo se modifica, o que acontece é que esse recurso será mais difícil de acessar", advertiu.

Fundação sensibiliza população

Para sensibilizar a população sobre a importância das geleiras, a Fundação Ponchos Blancos realiza caminhadas em várias delas para que as pessoas possam ver o impacto da crise climática sobre as montanhas nevadas.

"Procuramos demonstrar a regressão que existe no lugar e conscientizar as pessoas da importância desses lugares", declarou à Efe o diretor da fundação, Óscar Salinas, durante visita à Huayna Potosí.

Eles também fazem recomendações aos visitantes, bem como aos guias, a fim de preservar o que Salinas chama de "tesouros naturais", que estão se extinguindo, e assim contribuir de alguma forma para a sua conservação.

Entre as recomendações básicas está a de reduzir a contaminação durante os passeios. Ele alerta também que é necessário evitar a prática de queima de pastagens, para que não acelere o degelo devido à fuligem.

Da EFE

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