Profissionais de turismo temem contato com visitantes chineses

Rio,05/02/2020-AEROPORTO DO GALEAO,surto de coronavirus,

 desembarque de coreanos no aeroporto do Galeao,na foto.grupo

de coreanos .Foto: Cleber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes

De funcionários de aeroportos a taxistas, medo de contágio do coronavírus gera preconceito contra turistas orientais

Profissionais do setor de turismo e dos aeroportos do Rio, diante da presença de turistas orientais, estão temerosos com a possível chegada do coronavírus ao município. Na última segunda-feira, no Trem do Corcovado, no Cosme velho, uma cena inusitada chamou atenção. Uma mulher, com traços asiáticos, chegou de máscara e carregando um bebê. Segundo relatos de funcionários e taxistas do ponto turístico, os visitantes que estavam por perto logo se afastaram.

"A mulher foi passando e todo mundo abrindo espaço. Até uma obreira que estava aqui se afastou. Se eu vejo chineses, fico com medo mesmo. Ainda bem que a maioria vem de pacotes e não almoça por aqui", disse o funcionário de um restaurante que recruta turistas para o estabelecimento.

Ontem, alguns turistas do Piauí que estavam no Corcovado contaram que estavam preocupados. "Meus parentes não queriam que eu viesse para o Rio. Me recomendaram trazer máscara e luva, mas eu não estou com medo", revelou uma senhora.

Taxistas das redondezas disseram que não têm como recusar os orientais. "Ontem mesmo chegou um grupo enorme de chineses aqui de ônibus. Como vamos recusar? As autoridades é que precisam nos dizer o que fazer", comentou um deles. Um áudio que circula nas redes sociais traz o relato desesperado de um taxista no Aeroporto do Galeão. Ao ver dois chineses de máscaras ele diz: "Você vai parar? Vou é o cacete", disparou.

Ontem, ao verem turistas orientais com máscaras, cinco funcionárias de uma companhia aérea apertaram o passo para se distanciarem deles. "Não sabemos se estão infectados ou não. Na dúvida, prefiro evitar", argumentou uma das mulheres. Enquanto entravam em um ônibus de turismo, os coreanos eram observados com olhares receosos. Uma mãe, que aguardava para embarcar em outro coletivo, chegou a puxar a filha pelo braço para afastar a adolescente do grupo.

 Trabalhadores evitam preconceito

Funcionários do Galeão contaram que são orientados a usarem máscaras na chegada dos voos com passageiros da Ásia. O uso do equipamento, porém, é visto com constrangimento por algumas pessoas. Eles temem que a ação possa parecer preconceito com os orientais.

"Olhamos na tela o horário de chegada dos aviões. Assim que eles pousam, já colocamos as máscaras. Mas o uso é uma recomendação do próprio aeroporto. Não podemos dar bobeira", constatou um funcionário.

Para o taxista Leonardo Alvarenga, 32 anos, o uso das máscaras pode sugerir preconceito com o turista. "O assunto é sério e a doença já matou várias pessoas ao redor do mundo. Quando chegam os voos da Ásia, alguns colegas ficam com receio de pegar os passageiros", contou .

A gerente de um hostel em Laranjeiras, na Zona Sul, acredita que recusar os orientais é uma forma de preconceito. "Não vou impedir a entrada de ninguém, mas o serviço de imigração deveria fazer essa peneira", pondera.

Missão de resgate na China

O Ministério da Saúde divulgou ontem que o Brasil tem onze casos suspeitos de coronavírus. Nenhum deles foi confirmado. Conforme o boletim, há cinco suspeitos no Rio Grande do Sul, quatro em São Paulo e um em Santa Catarina e outro no Rio de Janeiro.

Desde as primeiras suspeitas, 21 casos já foram descartados no Brasil. Até ontem foram 491 mortes por coronavírus na China e 182 casos confirmados em outros 24 países.

Ontem, dois aviões com capacidade para 30 passageiros cada decolaram de Brasília para buscarem brasileiros na cidade chinesa de Wuhan. Eles passarão por avaliação médica e apenas embarcará quem não apresentar sintomas da doença.

Todas as pessoas trazidas de Wuhan deverão cumprir quarentena de 18 dias. Os militares da missão também ficarão de quarentena na base de Anápolis, Goiás. O retorno das aeronaves está previsto para sábado.

Recomendações aos profissionais

Proteção individual

- Se não houver relato da presença de caso suspeito, trabalhadores que realizam abordagem em aviões, navios e demais meios de transporte devem utilizar máscara cirúrgica.

Caso suspeito

- Se tiver relato da presença de caso suspeito, profissionais que realizam abordagem em aviões, navios e demais meios de transporte devem utilizar máscara cirúrgica, avental, óculos de proteção e luvas.

Inspeção de bagagem

- Servidores e trabalhadores que realizam inspeção de bagagem acompanhada devem utilizar máscara cirúrgica e luvas.

Recomendações gerais

- Higienização frequente das mãos com água e sabonete.

- Quando as mãos não estiverem visivelmente sujas, pode ser utilizado álcool gel para higienizá-las.

- Utilizar lenço descartável para higiene nasal.

- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir.

- Evitar tocar mucosas dos olhos, nariz e boca.

- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar.

Restrições de viagem

- A Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselha a aplicação de quaisquer restrições de viagem e ao comércio. Também não recomenda nenhuma ação de triagem nos pontos de entrada (portos, aeroportos e fronteiras).

Por Waleska Borges

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